quarta-feira, 30 de maio de 2007

Amigo cusco


Amigo cusco!

As lágrimas escorrem-me pelo rosto em catadupa, ininterruptas! As lembranças que o seu lindissimo texto me trouxe!

Os kms diários a pé, ao sol, á chuva, sob tempestades. Não havia dinheiro para a camioneta. Uma hora de manhã a passo corrido em direcção à escola, e o mesmo ao fim do dia. Iamos sempre em grupo! Eu, o Daniel, a Albertina, o Joaquim Agostinho.....

Havia dias em que chegava encharcada a casa e a minha mãe só dizia: «O minha filha, vai, seca-te» e continuava na sua rotina diária, sete dias por semana, no tear.

Constipava frequentemente, semanas a fio.

O guarda chuva não chegava cedia sob o peso dos 5 kms diários.

Mas chegava a casa, e lá dizia a minha mãe:«Vai minha filha tens a toalha pronta seca-te, veste roupa quente». E continuava a labutar. Tecia, como ainda tece!

Nos dias de calor intenso e como encurtavamos caminho pelos campos e montes, colhiamos uvas, cerejas e fugiamos quando eramos apanhados.

Molhavamo-nos nos riachos, bebiamos daquela água muitas vezes, matavamos a sede. Havia alturas em que se encontravam lá sacos de tremoços, a curtir em água corrente e lá enchiamos as mãos.

No Outono eram as castanhas e os marmelos. Trepava aos ramos e colhia os frutos com um odor tão forte, uma delicia. Uma polpa doce, muito doce, não como os de agora. Foi aqui que descobri ser alérgica ao pó dos castanheiros. Fiquei linda! Que comichão.

Dinheiro?

Não havia! Nunca soube o que era mesada. Cosia sapatos para ajudar em casa, enchia canelas para o tear. Era eu quem fazia o jantar!

Roupa?Dada e usada! vinha de França. Não havia dinheiro para estes luxos.

Era tudo destinado à escola. Minha filha diziam-me eles, os meus pais, tens oportunidade, aproveita. Estuda!

Os meus tios traziam toneladas de roupa para escolher!

Invariavelmente e como era «grande» para a minha idade, ficava com roupa que não se adequava à minha faixa etária. E era gozada.
Este passado fez de mim o que sou hoje!
Este esforço colectivo de pais e filhos ensinou-me e muito. Lutar por aquilo que se quer.
Nos dias de hoje já não é bem assim.
Os jovens têm a vida facilitada! É Ipods, telemóvel, leitores de cd..... Chiça.
Tive o meu primeiro rádio com 16 anos, comprei-o com o meu dinheiro, fruto do meu suor a coser sapatos. Só conheci um gira discos com 19 anos. Deste então vivi 13 anos, apenas mais 13 anos.
Não tive uma infância ou adolescência fácil. Mas não trocava!

Se sou quem sou e como sou, devo tudo a isto.

E não o trocava por nada!Por nada!

5 comentários:

Rafeiro Perfumado disse...

Correndo o risco de repetir palavras já ditas pelos nossos pais, foram tempos do catano. Mas pelo menos serviram para darmos mais valor às nossas pequenas conquistas.

Uma grande beijoca!

Cusco disse...

Olá! Obrigado pelo teu belo e sentido comentário ao meu texto. Sabes foi um dos textos que mais me custou a escrever até hoje. Foi um texto em que eu senti a alma a chover e os vidros a rasgarem-me todo por dentro, foi um texto em que não consegui pôr tudo lá dentro…Foi como que um texto que ficou em aberto e que agora aqui ficou mais belo pois vi a tua alma derramar-se também dentro dele…
Bem hajas e um grande Beijo
OBRIGADO!

Carmim disse...

Li o texto do Cusco para entender de onde veio este post. Tal como disse no blog dele, estou sem palavras e sinto-me pequenina.
Talvez, por causa da minha idade, nunca tenha passado por coisas desse género, mas sei de muitas histórias assim.
Gente que com pouco se tornou grande. Aprendeu a dar valor às coisas realmente importantes, e a passá-los aos outros.
Como também disse no Blog do Cusco, existem milhares de crianças ricas completamente pobres de espírito, e essa sim, é uma pobreza doentia e sem solução.

Beijinhos.

Lyra disse...

Tocou-me o texto do Cusco, mas aqui não consegui conter as lágrimas.
Qdo criança, não havia mto, mas o suficiente. Valorizava-se o que se tinha, e de que maneira...
Hoje grande parte das crianças não pede, exige. E há pais que no intuito de compensar o facto de estarem ausentes, pactuam com tais situações. Temos crianças egoístas que crescem julgando que o mundo gira à volta dos seus caprichos.
São ricas de bens materiais, mas pobres em tudo o resto...
Bjos linda

joao disse...

olá... li ambos os blog´s...
ambos carregam uma infãncia que não era fácil
Os tempos tb não eram dos melhores e a vida era bastante dificil...
Mas foi assim k deram valor às coisas, que aprenderam.... são os testemunho do que a força de vontade pode fazer
Admiro a vossa coragem...
a Vossa força....
Tb tive momentos que me recordo e nunca os esquecerei de uma infãncia não rica nem mto pobre... mas com dificuldades desses tempos amargurados...
mas no mais simples k não tinhamos podemos ter sido os mais felizes do que outros k td tinham
Cusco um abraços
Linda... um beijinho...
fizeste-me inverter os ponteiros relógio e voltar a ser uma criança franzina, moreninha... pernas de " caneta" e de olhos esbugalhados...
fizeram-me sentir de novo o ar dos pinheiros mansos k me envolviam... os risos de alegria das brincadeiras k fazia... o atolar-me na lama por um salto mal calculado e com a roupa de domingo.. ( censurado ) :p
Obrigados :o)